domingo, 2 de dezembro de 2007

O direito de ser igual, sendo diferente...



Alunos: Ana Paula, Arthur, Gustavo, Jhonatan e Ramon Passos.
Turma: 1005

sábado, 1 de dezembro de 2007

África

Continente Africano

África, o terceiro maior continente da Terra, ocupa, com as ilhas adjacentes, uma superfície de cerca de 30.330.000 km2 ou 22% do total da massa terrestre.

Ambiente natural


Com a exceção da costa norte e dos montes Atlas, o território africano é um planalto vasto e ondulado, desfigurado por grandes bacias. A África pode ser dividida em três regiões: o planalto setentrional, os planaltos central e meridional e as montanhas do leste. Em geral, a altitude do continente aumenta de noroeste para sudeste. As faixas litorâneas baixas, com exceção da costa mediterrânea e da costa da Guiné, são estreitas e elevam-se bruscamente em direção ao planalto.

População

Na parte norte do continente, inclusive no Saara, predominam os povos caucasóides, principalmente berberes e árabes. Constituem aproximadamente a quarta parte da população do continente. Ao sul do Saara, predominam os povos negróides, cerca de 70% da população africana. Na África meridional, existe uma concentração de povos khoisan, san (bosquímanos) e khoikhoi (hotentotes). Os pigmeus concentram-se na bacia do rio Congo e na Tanzânia.

Economia


Em sua maioria, os africanos são tradicionalmente agricultores e pastores. A colonização européia aumentou a demanda externa de determinados produtos agrícolas e minerais. Para atendê-la, construíram-se sistemas de comunicação, introduziram-se cultivos e tecnologia europeus e desenvolveu-se um moderno sistema de economia de intercâmbio comercial, que continua coexistindo com a economia de subsistência. Embora cerca de 60% de toda a terra cultivada seja ocupada pela agricultura de subsistência, a África produz e exporta mais da metade da produção mundial de cacau, mandioca, cravo e pita.


História


Há aproximadamente 5 milhões de anos, um tipo de hominídeo habitava o sul e o leste da África. Há cerca de 1,5 milhão de anos, esse hominídeo evoluiu para formas mais avançadas: o Homo habilis e o Homo erectus. O primeiro homem africano, o Homo sapiens, data de mais de 200.000 anos (ver Hominização). A população negróide, que dominava a domesticação de animais e a agricultura, expulsou os grupos bosquímanos para as zonas mais inóspitas. No primeiro milênio a.C., o povo banto, um dos grupos dominantes, começou uma migração que durou 2.000 anos e povoou a maior parte da África central e meridional. A primeira grande civilização africana começou no vale do Nilo por volta de 5000 a.C. O reino do Egito desenvolveu-se e influiu nas sociedades mediterrâneas e africanas por milhares de anos.

Africanas, Línguas, línguas indígenas do continente africano. Na África são faladas mais de mil línguas diferentes. Com exceção do árabe, que excede o continente, as línguas mais faladas são o suaili e o haussa que contam, cada uma, com mais de dez milhões de falantes. Poucas possuem documentos literários escritos, embora a maioria apresente ampla tradição de testemunhos orais.

Classificação das línguas

Classificam-se em quatro grandes famílias: camito-semítica ou afro-asiática, nilo-saariana, khoi-san e nigero-kordofana. Chama-se família de línguas o grupo de idiomas procedentes de um tronco comum. As famílias se subdividem em ramos constituídos por línguas próximas e inter-relacionadas.

Família camito-semítica

Constitui o grupo mais importante. O árabe, ramo mais importante, é a língua mais falada no norte do continente e República do Sudão. O aramaico, falado por cinco milhões de pessoas, é o idioma oficial da Etiópia. Entre as línguas semíticas faladas no norte da África, estão o tigrinia e o tigré da Eritréia. O ramo bérbere é falado por quase toda a população do Marrocos, Argélia e Tunísia, além dos grupos disseminados pelo norte da África. O ramo cuchítico está localizado na Etiópia, Somália, costas do mar Vermelho e inclui o orominga e o somali. O egípcio antigo, hoje sem descendência entre as línguas vivas, era desta mesma família (ver Língua copta). O ramo tchádico se estende ao norte da Nigéria e a mais importante é a língua haussa.

Família nilo-saariana

É falada ao longo de um território que se estende pelas margens do rio Níger até a Etiópia, através do vale do alto Nilo e em algumas partes da Uganda e do Quênia. O membro mais ocidental desta família é o songhai, falado em grande parte do Alto Níger, Mali e Níger. O ramo saariano abrange as línguas do norte da Nigéria, da República do Chade e de alguns assentamentos da Líbia. O ramo nilo-chadiano conta com um milhão de falantes no Sudão, norte do Chade, parte de Uganda e do Quênia, e no limite noroeste do Congo. As línguas núbias se localizam na fronteira do sul do Egito, ao longo do alto Nilo.

Família khoi-san

É formada por línguas que contam com menor número de falantes, não mais do que cem mil em todo o continente. São os idiomas falados pelos povos do sul da África, os san e os kikuius. O mais falado é o nama. A noroeste da Tanzânia existem duas línguas da mesma família, a sandawe e a hadza.

Família nígero-kordofana

Inclui duas subfamílias: a kordofana e a nígero-congolesa. A primeira abrange cerca de trinta línguas e se localiza em uma área pequena ao sul do Sudão, nas montanhas de Nuba. A nígero-congolesa se distribui por quase todo o continente, ao sul do deserto do Saara. Em decorrência das migrações, a subfamília nígero-congolesa fragmentou-se em várias ramos ao longo de mais de 5.000 anos. As línguas bantos pertencem a um ramo desta subfamília e as mais conhecidas são o zulu da África do Sul, o suaili e o sukuma da Tanzânia e o ruandês de Luanda. Atualmente, começa a ser conhecida a produção literária dos escritores das línguas banto.

Outras famílias lingüísticas

As famílias indo-européia e malaio-polinésia estão também presentes nos idiomas africanos. À família indo-européia pertencem o africâner e inglês, idiomas da República da África do Sul e do Zimbábue, o francês, falado nas antigas colônias africanas francesas, e o espanhol da Guiné e províncias espanholas de Ceuta e Melilla. O malgaxe, idioma de Madagascar, pertence à família malaio-polinésia.

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http://www.brasilescola.com/geografia/africa-continente.htm

domingo, 25 de novembro de 2007

Escravidão no Brasil

A história da escravidão no Brasil, escravidão negra africana no Brasil Colônia, tráfico de escravos, os navios negreiros, trabalho escravo nos engenhos e nas minas de ouro, os castigos, as revoltas, os quilombos, carta de alforria, fim da escravidão, Lei do Ventre Livre, Lei dos Sexagenários, Lei Áurea, Abolição da escravatura.



Sobre este tema, é difícil não nos lembrarmos dos capitães-de-mato que perseguiam os negros que haviam fugido no Brasil, dos Palmares, da Guerra de Secessão dos Estados Unidos, da dedicação e idéias defendidas pelos abolicionistas, e de muitos outros fatos ligados a este assunto.
Apesar de todas estas citações, a escravidão é bem mais antiga do que o tráfico do povo africano. Ela vem desde os primórdios de nossa história, quando os povos vencidos em batalhas eram escravizados por seus conquistadores. Podemos citar como exemplo os hebreus, que foram vendidos como escravos desde os começos da História.
Muitas civilizações usaram e dependeram do trabalho escravo para a execução de tarefas mais pesadas e rudimentares. Grécia e Roma foi uma delas, estas detinham um grande número de escravos; contudo, muitos de seus escravos eram bem tratados e tiveram a chance de comprar sua liberdade.


Escravidão no Brasil


No Brasil, a escravidão teve início com a produção de açúcar na primeira metade do século XVI. Os portugueses traziam os negros africanos de suas colônias na África para utilizar como mão-de-obra escrava nos engenhos de açúcar do Nordeste. Os comerciantes de escravos portugueses vendiam os africanos como se fossem mercadorias aqui no Brasil. Os mais saudáveis chegavam a valer o dobro daqueles mais fracos ou velhos.
O transporte era feito da África para o Brasil nos porões do navios negreiros. Amontoados, em condições desumanas, muitos morriam antes de chegar ao Brasil, sendo que os corpos eram lançados ao mar.
Nas fazendas de açúcar ou nas minas de ouro (a partir do século XVIII), os escravos eram tratados da pior forma possível. Trabalhavam muito (de sol a sol), recebendo apenas trapos de roupa e uma alimentação de péssima qualidade. Passavam as noites nas senzalas (galpões escuros, úmidos e com pouca higiene) acorrentados para evitar fugas. Eram constantemente castigados fisicamente, sendo que o açoite era a punição mais comum no Brasil Colônia.
Eram proibidos de praticar sua religião de origem africana ou de realizar suas festas e rituais africanos. Tinham que seguir a religião católica, imposta pelos senhores de engenho, adotar a língua portuguesa na comunicação. Mesmo com todas as imposições e restrições, não deixaram a cultura africana se apagar. Escondidos, realizavam seus rituais, praticavam suas festas, mantiveram suas representações artísticas e até desenvolveram uma forma de luta: a capoeira.
As mulheres negras também sofreram muito com a escravidão, embora os senhores de engenho utilizassem esta mão-de-obra, principalmente, para trabalhos domésticos. Cozinheiras, arrumadeiras e até mesmo amas de leite foram comuns naqueles tempos da colônia.
No Século do Ouro (XVIII) alguns escravos conseguiam comprar sua liberdade após adquirirem a carta de alforria. Juntando alguns "trocados" durante toda a vida, conseguiam tornar-se livres. Porém, as poucas oportunidades e o preconceito da sociedades acabavam fechando as portas para estas pessoas.
O negro também reagiu à escravidão, buscando uma vida digna. Foram comuns as revoltas nas fazendas em que grupos de escravos fugiam, formando nas florestas os famosos quilombos. Estes, eram comunidades bem organizadas, onde os integrantes viviam em liberdade, através de uma organização comunitária aos moldes do que existia na África. Nos quilombos, podiam praticar sua cultura, falar sua língua e exercer seus rituais religiosos. O mais famoso foi o Quilombo de Palmares, comandado por Zumbi.
Campanha Abolicionista e a Abolição da Escravatura
A partir da metade do século XIX a escravidão no Brasil passou a ser contestada pela Inglaterra. Interessada em ampliar seu mercado consumidor no Brasil e no mundo, o Parlamento Inglês aprovou a Lei Bill Aberdeen (1845), que proibia o tráfico de escravos, dando o poder aos ingleses de abordarem e aprisionarem navios de países que faziam esta prática.
Em 1850, o Brasil cedeu às pressões inglesas e aprovou a Lei Eusébio de Queiróz que acabou com o tráfico negreiro. Em 28 de setembro de 1871 era aprovada a Lei do Ventre Livre que dava liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir daquela data. E no ano de 1885 era promulgada a Lei dos Sexagenários que garantia liberdade aos escravos com mais de 60 anos de idade.
Somente no final do século XIX é que a escravidão foi mundialmente proibida. Aqui no Brasil, sua abolição se deu em 13 de maio de 1888 com a promulgação da Lei Áurea, feita pela Princesa Isabel.

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<http://suapesquisa.com/historiadobrasil/escravidao.html>

O Brasil Negro

"O sol da liberdade": movimento negro e a crítica das representações raciais
Osmundo de Araujo Pinho

"...Is arising. The sun is arising " . A mensagem otimista e radiante de Bob Marley expressa bem a transfiguração típica das formas culturais do Atlântico Negro que transcendem a dor e o sofrimento do "terror racial" em formas de representação de uma identidade em trânsito fundada na luta por libertação e dignidade (Gilroy, 2001). Estas formas são parte integrante da luta e do ambiente político simbólico e material que ao ser representado se inscreve. Ora, não existindo saber político fora de sua representação o momento da ação política "deve ser pensado como parte da história de sua forma de escrita" (Bhabha, 2000: 15). Não existe um campo exterior à representação para pensar o conjunto dos problemas da emancipação e da dominação destacados de sua contingência e de sua materialidade, nesse sentido, este texto faz parte da história de escritura dedicada à reinvenção de posições de sujeito afrodescendentes no Brasil do começo do século XXI.
Neste artigo, procuro descrever a luta pela emancipação racial como atravessada pela emergência de uma consciência insurgente afrodescendente que se materializa sob duas formas gerais: primeiro, na "atividade consciente" dispersa e complexa, agenciada sob a égide do movimento negro, conjunto de agentes sociais negros ou afrocentrados que elegeram definir sua identidade como essencialmente política ou voltada para produzir um efeito estrutural sobre a sociedade brasileira que fosse uma realocação de poder e benefícios públicos. Em segundo lugar, esta consciência insurgente ensaia manifestar-se como a coagulação de uma perspectiva crítica que em alto grau de reflexividade faz a crítica radical das políticas de representação racial como instrumentos de consolidação hegemônica nas artes e nos discursos eruditos ou competentes. Posta em ação nos movimentos sociais negros ou em peças de intervenção discursiva estratégica, essa emergência talvez concorra para a aurora de um novo dia no qual o "sol da liberdade" brilhe para todos.
A gênese dos modernos movimentos sociais negros pode ser descrita como pertencendo a duas frentes históricas. De um lado, podemos descrever uma tradição de organização social do meio negro que remonta ao período colonial como uma trajetória ocasionalmente vista como mais ou menos independente e com identidade própria. De outro lado, podemos ver que o movimento negro moderno, ou seja, aquele surgido no contexto do declínio do regime militar a partir dos anos 70, associa-se a um movimento mais amplo de reorganização dos movimentos sociais e de politização da sociedade e do cotidiano (Figueiredo&Cheibub, 1986-87; Fontaine, 1985; Gonzales, 1985). Estas narrativas sobre a organização política no "meio negro" se alimentam de fontes tanto êmicas quanto éticas. Pesquisadores acadêmicos, ativistas negros e pesquisadores acadêmicos que são ativistas negros têm inscrito e proposto interpretações sobre a história de organização e resistência dos afrodescendentes no Brasil. A narrativa vista com mais simpatia e na verdade quase entronizada como a oficial do ponto de vista mais próximo de uma versão "ativista" é aquela que enfatiza a continuidade da "resistência" negra, nesta narrativa o quilombo de Palmares e o seu último líder militar Zumbi, derrotado e morto pelo sangüinário bandeirante Domingos Jorge Velho em 1695, é o marco histórico fundamental. Na verdade, o quilombo de Palmares, e a forma genérica "quilombo", tem sido ressignificado fortemente a partir da reorganização do movimento negro nos anos 70. O quilombo passa a representar um modelo alternativo de organização da sociedade que desafiou os poderes coloniais e reinventou um mundo africano - no caso de Palmares, banto - baseado no trabalho livre, na propriedade comum da terra, em valores tradicionais holísticos etc. A utopia afrodescendente passa, assim, a incorporar um modelo histórico como referência no passado para a possibilidade de futuro. Parece claro como a estratégia de se contar a história da organização autônoma negra faz parte de uma estratégia mais ampla de refundação das bases interpretativas do presente que dê lugar a uma perspectiva sobre o passado nacional e sobre o lugar do negro nesse passado que fundamente uma capacidade insurgente de crítica e de superação da opressão e da desigualdade.
Quando, no contexto de redemocratização da sociedade e de reorganização dos movimentos negros, o poeta Oliveira Silveira do Grupo Palmares do Rio Grande do Sul propôs o 20 de novembro - aniversário da morte de Zumbi - como Dia Nacional da Consciência Negra, o 13 de maio passou a ser crescentemente anatemizado como a celebração de uma falsa abolição e o 20 de novembro tornou-se a data principal do reinvestimento simbólico/histórico da política afrodescendente no Brasil (Nascimento 2000; Mendonça, 1996; Pinto, 1993; 1990). Hamilton Cardoso, um dos mais notáveis intelectuais negros do período, procurou explorar todas as conseqüências políticas do reconhecimento de Zumbi [3] como herói nacional em novembro de 1985, principalmente aquelas que sinalizam para o aspecto trans-étnico da luta de libertação quilombola, nesse sentido "resgatar" Zumbi:
"É um fato cultural porque é um fato político; é um fato político porque rompe com a política cultural dominante. Reflete, na verdade, outra forma, de engajamento político do militante negro nos processo sociais. Revela um ponto de vista humano, capaz de romper as fronteiras da raça. Arrebentando a geografia da pele e da cor"(Cardoso, 1986: 66).
Durante o regime militar inaugurado com o golpe de 31 de março de 1964 diversos grupos se organizaram em todo o país. No Rio Grande do Sul, o já citado Grupo Palmares. No segregado interior de São Paulo assistiu-se uma intensa movimentação com o grupo Evolução de Campinas fundado por Thereza Santos e Eduardo Oliveira e Oliveira em 1971 e o Festival Comunitário Negro Zumbi (FECONEZU) que existe desde 1978 até os dias de hoje. Na capital paulista o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO) fundando por Abdias do Nascimento em 1980 no seu retorno do exílio. No Rio de Janeiro o Instituto de Pesquisa de Cultura Negra (IPCN) e a Sociedade de Estudo de Cultura Negra no Brasil (SECNEB), A Sociedade de Intercâmbio Brasil África (SINBA), o Grupo de Estudos André Rebouças, etc. Na Bahia o Núcleo Cultural Afro-Brasileiro, o Grupo de Teatro Palmares Iñaron e assim por diante. A confluência de determinados fatores fez com que alguns destes e outros grupos fundassem em 18 de junho de 1978 o Movimento Unificado contra a Discriminação Racial (MUCDR), realizando em seguida um ato público nas escadarias do Teatro Municipal em São Paulo no dia 7 de julho. O MUCDR foi depois rebatizado em 23 de julho como Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial (MNUCDR), em dezembro de 1979 durante o 1o Congresso realizado no Rio de Janeiro passa a chamar-se de Movimento Negro Unificado (MNU) nome que conserva até hoje(Nascimento & Nascimento, 2000; Barcelos, 1996; Cardoso, 2002; Félix, 1996; Hanchard, 1994). O ato do dia 7 de julho foi convocado em protesto contra a morte do jovem negro Robson Luís. O jornal "Versus" noticiou com detalhe o caso Robson Luís e o protesto que marcou a aparição pública do novo movimento negro brasileiro. No número 22 de junho-julho de 1978 lemos que por roubar com amigos que vinham bêbados de uma festa três caixas de frutas, Robson Luís, 21 anos, casado, morador da Vila Popular, morreu no dia 28 de abril de 1978 no Hospital de Clínicas, seu rosto estava desfigurado e seu escroto fora arrancado na 44ª Delegacia de Polícia em SP. Segundo apurou o jornal, o delegado enquanto batia dizia: " Negro têm que morrer no pau" (Versus, 1978). O ato público reuniu, além disso, atletas indignados com o Clube de Regatas Tietê em São Paulo que impedira quatro adolescentes negros, atletas de voleibol, de treinarem no clube. O jornal Versus conta como os meninos foram barrados pelo porteiro e que o técnico ao reclamar ouviu de um dos diretores: "Se deixar um negro entrar na piscina cem brancos saem". (Versus, julho-agosto, no 23, 1978: 33).
É preciso considerar com cuidado o contexto de surgimento destes novos atores sociais negros como o MNU e demais movimentos e organizações semelhantes surgidas no período ou depois. Estávamos assistindo neste momento o declínio do poder dos militares e a preparação para redemocratização do país. Diversos outros agentes sociais se constituíam e colocavam neste momento, alguns se recompondo, como o movimento sindical, outros fazendo sua aparição inaugural como sujeitos políticos na cena pública como o Movimento Homossexual( MacRae, 1982; 1990). É neste ambiente que a narrativa histórica de longa duração para o protagonismo negro que descrevi muito resumidamente acima se encontra com outra narrativa de fundação, esta preferida por analistas "exteriores" ao campo de ação propriamente político em questão. Esta narrativa associa o surgimento do Movimento Negro Moderno aos chamados Novos Movimentos Sociais. Estes novos atores sociais, surgidos neste período, se definem principalmente como novos interlocutores que forçam a entrada no proscênio público, em um processo de redefinição dos debate pela definição de temas e de pautas comuns a toda sociedade, assim considerados como questões públicas. Os movimentos sociais negros - culturais e políticos - parecem se enquadrar plenamente neste processo. Um processo marcado pelo redirecionamento de questões da esfera privada - a cor da pele, o racismo operando no plano da relações interpessoais, a religião Afro-Brasileira, o cotidiano imediato e periférico das bairros negros, etc. - para a arena pública, através da inclusão de discursividades negras, como um novo sujeito, como um pólo ou eixo de articulação de miríades de vozes que se encontram e se cristalizam neste processo de enunciação coletiva (Costa, 1997a; 1997b; Sader, 1995).
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(Osmundo de Araujo Pinho é pesquisador do Centro de Estudos Afro-Brasileiros, da Universidade Cândido Mendes e bolsista do Programa GRAL (Gênero Reprodução Ação Liderança) da Fundação Carlos Chagas/John D. and Catherine T. MacArthur Foundation. E-mail: opinho@candidomendes.br)